No canto da sala um ruído televisivo tomava conta do ambiente. Ninguém prestava atenção no que ali se passara, tampouco nos detalhes coloridos do vestido branco que ela usava.
Destoando de todos, folheava uma revista de carros como se buscasse algum sentido naquelas páginas. Eventualmente, reposicionava os óculos vermelhos, numa vã tentativa de torná-los confortáveis.
Já não havia mais o que ler, a televisão alardeava notícias enfadonhas sobre comidas saudáveis. De repente, um comentário irritado de uma senhora sobre um juiz atrevido que havia determinado o bloqueio de um aplicativo e, por isso, não conseguia enviar vídeos aos seus netos.
O bloqueio virtual serviu ao desbloqueio social. E foi ali onde todos perceberam que os outros existiam.
Eles apenas se entreolharam num gesto como se fora destreinado e inédito. Mas a sensação era boa, muito boa.
(H.L, 2016)
(H.L, 2016)
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