Aos 18 anos eu tive minha primeira oportunidade de emprego. Lembro muito bem que àquela época comprei uma roupa nova para estrear na empresa que me contratara. Trabalhei avidamente meu primeiro mês, fazendo o melhor que conseguia, ainda cometendo alguns deslizes e bem tímido no desempenho das atividades. Os tempos não eram fáceis, estava no curso de Direito da UFRN havia 1 ano, não tinha dinheiro para comprar livros e, às vezes, nem xerox dos materiais, mas isto nunca foi motivo suficiente para que me vitimizasse com nada, tampouco achasse que a profunda desigualdade do mundo era a culpada dos meus problemas. Pois bem, o salário mínimo era de 200 reais e minha primeira remuneração foi de 87 reais. Naturalmente, como aluno de Direito (que muitas vezes acha que é o bastião da justiça no mundo), fiquei bem chateado com aquela situação e pensei em todo tipo de denúncia aos órgãos competentes para fiscalização trabalhista, pedir demissão, dentre outros atos movidos pela decepção com meu patrão. Mal sabia eu que, licita ou ilicitamente, meu chefe estava me avaliando, dado que eu era bem jovem e desempenhava um trabalho com um público bem particular. Estava diante de um dilema: o que fazer diante daquele cenário? Foi aí que eu decidi ser melhor ainda do já vinha sendo. Elevei minha capacidade criativa próxima dos 100%, fiz o que não me pediram, estudei o que não me era solicitado e quis provar a todos, mas essencialmente para meu lado justiceiro, que eu poderia conseguir resultados por méritos. A verdade é que o primeiro salário eu gastei todo com aquela roupa nova e tive que me programar por mais algum tempo. Seis meses depois eu tive a feliz notícia que receberia mais atribuições e meu novo salário seria de 600 reais. Poucos até hoje sabem dessa história, mas acordei com isto na cabeça e coletei algumas lições:
a) Sempre haverá uma segunda opção a se tomar. (Sobre)viver pode variar entre um ato de extrema facilidade a receber um soco no estômago e ser desafiado a terminar o dia em condições de descansar novamente para a batalha que se segue. Nessa terreno arenoso haverá bifurcações decisórias o tempo todo;
b) É muito perigoso se tomar decisões permanentes com base em emoções temporárias. Após 12 anos estudando Direito eu me dei conta que decisões de justiça não estão necessariamente no Judiciário. Você pode me questionar se eu não contribuí para perpetuação de injustiças pela minha omissão, mas eu entendo, tal qual Clóvis de Barros Filho, que não podemos sofrer pelos efeitos das decisões que não tomamos. Cada escolha traz seus benefícios e prejuízos. Cabe a cada um fazer a análise da eficiência e resultados dos caminhos que decide trilhar;
c) A falta de reconhecimento não é motivo para se fazer um trabalho medíocre. O jogador de várzea, conforme aponta Waldez Ludwig, não faz gol contra porque ganha salário baixo. Aí é que ele precisa aparecer, sem que para tanto precise enganar, tripudiar ou desprezar questões éticas;
d) Nenhum patrão ou empresa pode se apropriar dos seus projetos. Eles são de sua responsabilidade. Não terceirize os seus sonhos, tampouco a realização deles a quem não tem compromisso com seu bem-estar (por essas e outras que sandices do tipo dano existencial não se sustentam). Por mais que você faça um trabalho espetacular, há quem não consiga enxergar isto e seu dever é sair desse meio o mais rápido possível, por uma questão muito mais de amor próprio do que meramente econômica. Você é o maior especialista da sua vida!
e) Nunca faça dívidas sem provisões asseguradas.
Humberto Lucena
2 comentários:
Muito bom!
Infelizmente muitas vezes agimos por impulso e desmotivação, sem pensar no amanhã.
Se pararmos por um momento... Enxergamos a situação de um outro ângulo.
Muito bom!
Infelizmente muitas vezes agimos por impulso e desmotivação, sem pensar no amanhã.
Se pararmos por um momento... Enxergamos a situação de um outro ângulo.
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