segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A calça...

Em 1996 (11 anos de idade) anos saí de uma pequena cidade no interior da Paraíba (São Bento-PB) para estudar em Campina Grande-PB. Àquela época, morávamos eu e minhas duas irmãs mais velhas (de 15 e 17 anos), longe de casa, sem muitos recursos, mas com um sonho que não cabia no peito e na mente. Tão logo nos instalamos, meus pais procuraram um colégio (hoje não mais existe), considerado um dos melhores da cidade, para que eu pudesse estudar. Quando recebemos a lista de exigências, víamos que uma delas era que o aluno deveria usar calça de uma marca famosa e meias de cores determinadas pelo colégio. Embora 19 anos já tenham se passado, eu me lembro que tratava-se de um produto caro e que meus pais não podiam comprar, mas que sabiam da importância do sacrifício naquele momento da vida.

Questionamos a proprietária da escola se não poderia ser uma calça similar, de uma marca mais barata e recebemos um sonoro 'só estuda na minha escola quem pode'. Eu não podia, mas o que fazer, então? Diante daquela resposta meus pais poderiam silenciar e me mudar de colégio, criar um problema de ordem judicial ou simplesmente se resignarem. A última opção foi a escolhida. A escola tinha um programa de bolsas para os melhores alunos e eu só paguei integralmente o primeiro ano de estudo, pois conseguira estar sempre entre os 3 primeiros alunos agraciados.

Três anos depois eu decidi mudar de colégio e se iniciava na Paraíba uma mudança no vestibular tradicional para o PSS - Processo Seletivo Seriado. As escolas queriam bons alunos participando (era o 1º ano do ensino médio já) e ao informar que sairia do colégio, várias vantagens me foram oferecidas. Resumindo: o jogo virou, era finalmente a hora de dar a resposta que estava entalada, mas isto de nada me adiantaria. Saí em paz e grato pela oportunidade.

Dessa pequena história, algumas lições:

a) Todos os dias existirão pessoas dizendo que você não pode, não deve e não consegue. Aprenda: quem tem boca fala o que quer e algumas vezes nós ouviremos palavras duras de onde menos se espera. As sementes que você colhe são opcionais, a colheita obrigatória. O que você faz com as palavras que são lançadas contra você? Revida, transforma em mágoa e em rancor, converte em perseguição e conspiração?

b) Mesmo agindo da forma mais saudável o caráter giratório do mundo te dará quase sempre uma opção de vingança, de ser verborrágico. Diferentemente do que se ensina, isto não lava a alma e quem vos fala é alguém que, em outras situações, já usou desse expediente. Desculpar é retirar a culpa e, além de deixar o outro seguir, permitir que você ande sem um punhado de pesos e lembranças desnecessárias.

c) Faça sempre sua parte. A expressão 'esforça-te' - no singular - aparece 12 vezes na Bíblia sagrada e 8 vezes no plural. Isto significa que os resultados por méritos não são dádivas espirituais. São frutos naturais. Deus não fará absolutamente nada que estiver ao seu alcance porque, mesmo diante de tantas pedras, todos os dias a humanidade dá provas que consegue surpreender até o mais incrédulos dos seres.

d) Não transforme um objeto de consumo numa prioridade na sua vida. Sabe a expressão 'vão-se os aneis e ficam os dedos?'. Quem coloca coisas no lugar de pessoas acaba ficando sem os aneis e sem os dedos. Aquela escola que estudei, uns 5 anos depois desse fato caiu em derrocada e perdeu o posto de melhor colégio. Hoje não resta nem anel nem dedo, mas eu estou aqui para contar a história.


Boa semana! Paz e bem!



Humberto Lucena

4 comentários:

Sabrina Araújo disse...

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Anônimo disse...

Adorei ����������������

Camilla Carvalho disse...

Adorei ��������������

Humberto Lucena disse...

Obrigado
:)