quarta-feira, 26 de junho de 2013

Do grito


A votação da PEC 37 sob o véu do clamor popular, nesse momento específico, me dá muito mais arrepios temerosos do que satisfação propriamente dita. É o temor engendrado pela tradicional falta de discussão séria e da péssima cultura brasileira, infestada, de igual forma, no mundo jurídico, de ganhar tudo no grito e rápido. Esse vírus maledicente de não se conseguir discutir ideias, mas apenas pessoas, tão bem tratado na figura do homem cordial, de Sérgio Buarque de Holanda. Não se trata aqui de ser a favor ou contra tal emenda constitucional, mas de saber que a esmagadora maioria dos que contra ela praguejavam nem mesmo sabiam o significado da sigla que tanto crucificavam ou, ainda, qual o procedimento de tramitação no Congresso Nacional. 

A onda de decisão legislativa e presidencial como mecanismo de resposta rápida e merthiolate social denuncia dois pontos dignos de destaque: a) uma crise de legitimidade política indizível nos últimos vinte anos; b) um despreparo institucional e popular na gestão de conflitos e demandas reivindicatórias. A bem da verdade existem interesses, forças e arranjos por trás de cada organização ou grito liberado. Uns gritam porque sabem o que fazem; outros apenas por dispor de uma voz e nada mais. Tudo resume-se a uma micro e macrofísica do poder que, nesse momento, conta com gente de todas as castas sociais devidamente acomodadas unidas sob uma emotiva indignação que reclama uma Ordem no Congresso como elemento lógico ao lema positivista Comtiano que enobrece nossa bandeira.

A minha tristeza é: a voz que esfola a corrupção, quer a rejeição de uma PEC sem o mínimo de discussão sobre Teoria da Constituição e vocifera univocamente contra a Presidência da República é a mesma que alarga o magistral coro dos que oferecem a propina ao guarda de trânsito, exercem ilegalmente profissões, enganam, iludem, trapaceiam, mentem, denigrem, difamam, vendem ilusões e compram sonhos, roubam corações, furam filas, dão e pedem um jeitinho. É o brado dos cansados que cansam e creem, ingenuamente, que ética, respeito, probidade são valores estritos da esfera pública. Os protestos deveriam ser, antes de tudo, contra nós mesmos.

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