Determinados discursos plastificados como 'a democracia brasileira está evoluindo' ou 'escolha bem seu candidato' e 'vote com consciência', ao que me parece, soam como verdadeiras contradições com o cenário que se põe. Vejam os candidatos municipais, ad exemplum. Fico numa dúvida cruel se me ponho a cair em agigantadas crises de riso ou se me abraço com o desespero. Creem mesmo que, como diriam os portugueses, estamos a evoluir? A repetição dos jargões 'emprego e renda', 'saúde, segurança e educação' como se fosse uma banda tocada por desafinados músicos fanfarrões é uma repetição (des)necessária e televisionada do que o brasileiro é: um truão mazelado pela pobreza dos seus risos.
Isto
para não se falar nas pretensas renovações eleitorais movidas por sobrenomes
tão previsíveis quanto o trânsito islandês. A quem querem ludibriar? A você e a
mim, óbvio! E o pior: conseguem. Não porque conseguem seu voto - salvo os não
raros casos de aspones e jabutis eleitoreiros que precisam garantir seus cargos
comi$$ionados por mais quatro anos - mas por contarem com sua convicta omissão
e leniência. Sim, eles sabem da sua conformação espirituosa, cuja maior
característica é transformar uma suposta superioridade cognitiva em indiferença
anulatória. Arrimam-se, de igual modo, na certeza de que você apenas os
apedrejará com sua homilia recheada de senso comum e com bordas de inoperância.
Prendem-se à hialina convicção, alimentada por vossas insolências, de que
estamos malfadados a nos quedarmos no lamaçal escravagista de mentes, que são
nossos processos semi-democráticos.
Se
alguém cogita que a ignorância afeta (somente) os analfabetos e é instrumento perpetuador
de monarquias travestidas de processos legitimadores de representatividade tem
a mesma prudência e sensatez de um galináceo que crê poder voar e correr
simultaneamente. Nessa escola politiqueira somos [quase] todos alunos, no
sentido mais latinista da palavra (alumni, sem luz, fadado às sombras).
Preferimos o pecus ao telos, o salis à Polis, o engraçado ao dedicado. E nessa
teatralidade um tanto discursal nos convencemos da ingênua frase Sartreana que o
inferno são os outros, quando na verdade já ardemos no fogo impiedoso do Hades
intelectual, com direito ao canudo e, em certos casos, até uma pós-graduação. Afinal, é melhor ser um néscio iludido ou desesperançado com uma titulação. É, digamos, mais chique.
E
tenho dito. E assim tem sido.
Lucena
Filho
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