Encontrei meu amigo Tibério semana passada. Já não o via há quase um mês. Um dia até escrevi sobre um relato dele por aqui. O rapaz tem uma postura um tanto complexa. Mora sozinho, está no mestrado em Antropologia, vive ouvindo Radiohead, tem crises existenciais, detona o capitalismo, mas não perde por nada a promoção das quartas do McDonalds, onde ele lê religiosamente a Revista Carta Capital.
Ao primeiro olhar, Tibério aparenta ser ranzinza, inconveniente, maledicente e sombrio, mas não passa de um pseudodepressivo puro, de olhos negros e cabelos despenteados, e que não perde a chance de expressar sem filtros seus sentimentos. Aprecio pessoas assim. Vivem me perguntando o porquê de eu ainda investir numa amizade com o cara se ele, às vezes, me dá umas cortadas e confronta sem medos o que outros elogiariam.
Pois bem. Liguei para nosso amigo na última sexta-feira e fomos tomar um café num bistrô novo lá em Petrópolis. Falamos amenidades, sobre mulheres, futebol, amor, Obama, filmes, não necessariamente nessa ordem. De súbito, Tibério mudou de assunto:
T: Lucena, você é feliz?
L: Ih, lá vem tu com esses assuntos difíceis de se conversar. Mas sou sim, cara, digo, acho que sou. Sei lá... Você não?
T: Às vezes.
L: Como assim?
T: Não creio na felicidade como estado de espírito ou sensação contínua e eterna.
L: Alguma razão para tanto?
T: Penso haver momentos felizes. Como se fossem flashes, sabe. Você tem boas sensações em períodos pontuais.
L: Tibério, isso não parece vazio demais? Quer dizer, você passa mais tempo procurando esses momentos do que os usufruindo?
T: É por aí. Se você perdesse amigos, família, carro, emprego, continuaria feliz?
L: Naturalmente não.
T: Por que naturalmente?
L: Bom, isso é o suporte de qualquer pessoa.
T: Por isso que você não é feliz. Você está feliz... até que essas circunstâncias desapareçam.
L: E você ainda queria que eu fosse feliz numa situação dessas?
T: Você não me disse que ERA? Se você é, pressuponho que esteja inerente ao seu caráter, pessoa e própria existência. Se sua felicidade consiste nas pessoas ou coisas, por mais próximas que elas sejam, você está feliz. A grande questão gira em torno de mudança de circunstâncias.
L: Não captei.
T: Pelo princípio de que tudo é efêmero (inclusive nós), uma hora as circunstâncias sumirão. Em momentos dessa natureza, inconscientemente somos levados a substituir as antigas realidades por novas, seja através de um novo carro, promoção no emprego, casamento, ampliação do círculo de amizades, etc. Uma espécie de ciclo.
L: E como você define tais caçadores de felicidade?
T: Pessoas ocupadas, muito ocupadas e ao mesmo tempo tão vazias quanto a minha carteira agora.
L: Garçom, a conta!
Lucena Filho
9 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Esse Tibério é um Pelé isso sim!!!
kkkkkkkk
Ele é Feliz a custa dos outros, isso sim!!!
kkkkkkkkkkkk
Meus queridos, talvez por estudar psicologia acabo partilhando do posicionamento de Tibério. Não somente a felicidade é um estado e não algo estático, eterno, como também tudo que envolve o ser humano possui esse caráter efêmero. Se pararmos para pensar a relaidade do ser humano sob o ponto de vista de Rogers, por exemplo, podemos perceber que nós nunca seremos, e sim sempre estaremos. A vida é um processo de desenvolvimento e mudança continua, o que nos fazia feliz em nossa infância muito provavelmente não nos fará feliz do mesmo modo hoje. Lembrem-se não somos os mesmos que fomos ontem. Vejo a felicidade não como substantivo, mas acredito nesse conceito encarando-o como adjetivo raro e duradouro enquanto permenecer em nossas lembranças.
Concordo com Tibério... Felicidade é um sentimento momentâneo e dependente das circunstancias. Sou a favor da felicidade geral de todos =D Mas há momentos em que esse sentimento não dá pra aflorar. Parabéns pelos textos Betinho.
Jéssica, ainda bem que Tibério não lê esse blog. Ele disse que é pop demais pra ele
Ana Izabel, colocações brilhantes. Acho que Tibério adoraria te conhecer. Vocês conversariam muito sobre Rogers, Freud, Lacan
Laís, volte sempre, viu!
Uma ótima idéia o autor trazer à baila um assunto dos mais complexos e que, acredito, não há uma definição absoluta: a felicidade. Felicidade é um conceito bastante subjetivo (que envolve pensamentos, sentimentos e emoções) e individualista, de não ser obrigado ou até mesmo cobrado em demonstrar ou explicar a felicidade, até porque qualquer que seja o conceito de felicidade, este não será preponderante face ao seu caráter subjetivo. Felicidade é um estado de espírito que envolve desejos, realizações, emoções e satisfações. Não é uma afirmativa, apenas uma opinião, meu conceito subjetivo sobre o tema. Cada um tem sua visão (e sentimento) sobre o que seja felicidade. Esse assunto me fez lembrar de um livro que li do filósofo francês André Comte-Sponville, "A felicidade, desesperadamente" (Le Bonheur, désespérément). Nele, o autor delinea o projeto em três tempos: no primeiro, tenta compreender "porque não somos felizes, ou tão pouco, ou tão mal, ou tão raramente". É o que ele chama de "a felicidade malograda". No segundo, ele expõe uma "crítica da esperança", terminando no que ele chama de "a felicidade em ato". Finalmente, no terceiro tempo, o que poderia se chamar "a felicidade desesperadamente", ele evoca o que poderia ser "a sabedoria do desespero, em um sentido que seria também uma sabedoria da felicidade, da ação e do amor". Para quem não tiver paciência para ler esse pequeno livro de bolso com 138 páginas, vale a pena ler a entrevista com esse filósofo no site a seguir: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76063-6014-450,00.html.
Ok, felicidade é um estado, que pode ser um momento da vida de alguém, um evento, mas não é por isso que a gente vai ficar deprê se lamentando o resto da vida. A gente tem que plantar e cultivar a felicidade para ter uma vida agradável. Obrigada pela visita no meu blog!
Eu acho que Tibério é um cara triste, com surtos de felicidade. Prefiro o oposto.
Good job! ;)
Acredito que somos felizes e as tais "mudanças de circunstâncias" nos trazem picos de tristeza ou podem em alguns momentos exacerbar a felicidade, a depender do que tenha mudado.
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