sábado, 27 de dezembro de 2008

PORTO, Carolina


Como um blog tem o fito de aproximar um público desconhecido para uma realidade desconhecida, decidi compartilhar com vocês a existência de alguns personagens que de um modo ou de outro interagem comigo. A estreante será uma moça chamada Carolina Porto. Ela é uma daquelas pessoas diferentes, aparentemente alternativas, imprevisíveis. Tem um raciocínio rápido, olhos grandes, gesticula tanto quanto um italiano, adora falar sobre coisas 'densas' - conforme ela mesmo diz - sempre inclina a cabeça quando sorrir e viaja quando dá vontade (passou seis anos para concluir a faculdade de oito semestres por conta disso).

Carolina ou CP (como eu a chamo) tem umas abstrações muito interessantes e que aqui, acolá vão aparecer por aqui. De início, para entender o abaixo descrito é importante que você leia uma postagem chamada “A normalidade da loucura”. Continuando... hoje vocês vão saber como nos conhecemos. Abaixo, nossa nova amiga descreve minuciosamente esse dia ímpar.

PORTO, Carolina.

Passados dias turbulentos, resolvi tirar um mês sabático.

Tive a brilhante idéia de viajar pelo sertão do nordeste. Aí, logo se pensa – essa moça deve estar pagando penitência – bom, foi quase isso. É que dizem que depois da tempestade vem a bonança; então, quis dar uma ajudinha ao destino e marcar esse divisor de águas. Resolvi fazer algo diferente, ir a lugares pouco comuns para ver se os pensamentos clareavam, se via ou conhecia coisas e pessoas interessantes. E não é que aconteceu isso mesmo....

Do alto dos meus trinta anos – acho isso o máximo – com a cabeça farta de toda álgebra linear que a minha faculdade de engenharia mecatrônica permite, resolvi dar um tempo. Aliás, um adendo, me acho paradoxal.... como uma pessoa que tem como cotidiano lidar com análise de dinâmica linear, geometria analítica, cinemática e etc. pode gostar de música clássica, Claude Monet, Pablo Neruda e sorvete de menta? Estranho... mas, o ser humano é estranho.

Bom, é preciso me apresentar. O nome vocês já sabem, a idade também já disse. Nasci em Porto Alegre mas, não passei o tempo inteiro lá. Sempre quis ver o mundo, por dentro e por fora, caso contrário não tem graça. Viajei um pouco – de verdade e pelos livros também -, aliás, a leitura é uma das minhas paixões. Mas, a maior delas é pensar nos sentimentos, ô coisinha difícil de entender... prefiro cálculo avançado.

Falemos da viagem. Então, estou eu meio a uma madrugada, parada em um terminal rodoviário esperando meu transporte para a próxima cidade sertaneja do roteiro quando, de longe, avisto uma cena estranha. Um rapaz tentando ler e sendo interrompido por um cara meio “esquisito” falando em tom bem alto. O pobre leitor tinha feição fechada, olhos de surpresa e parecia muito incomodado com a abordagem do outro mas, tentava ser minimamente educado. Tenho certeza que a dupla não percebia que estava sendo observada de longe.

A conversa pareceu breve, mas, eu, do alto de uma curiosidade que me é peculiar, fiz um esforço colossal para ouvi-la. Porém, sem sucesso. Vi apenas quando o indivíduo perturbador foi embora praguejando. Nesse momento, a dita curiosidade corroía meu cérebro e já estava tomando meus ossos e eu, nada de coragem para me aproximar do moço e perguntar do que se tratava o diálogo.

O tempo passava, e a sensação só aumentava dentro de mim... Felizmente, quando estava a ponto de ter uma síncope, o ônibus que eu aguardava estacionou na plataforma do terminal. Levantei, frustrada, e me dirigi a ele. Vi então as preces de uma pobre criatura abelhuda começarem a ser respondidas; não era que a vítima do sujeito perguntador se dirigia ao mesmo ônibus que eu... Fiquei animada!

Uma vez acomodada na poltrona 34 (do lado da janela) e, qual foi minha surpresa, quando o abordado sentou-se ao meu lado. Pensei: “Devia ter feito faculdade de jornalismo...” . O ônibus deu partida e o moço continuava lendo concentrado, enquanto eu me contorcia – ainda mais - de curiosidade. Foi quando de súbito, descontrolada e num ato de loucura, perguntei: “Desculpa... mas, não pude deixar de perceber... sobre o que você e aquele senhor esquisito conversavam?” O pobre moço, mais uma vez atormentado por outro ser inconveniente, me olhou com ar de poucos amigos, fechou o livro com força, e então foi aí que tudo começou...

3 comentários:

Kylze disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Humberto Lucena disse...

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Kylze disse...

Espero um dia ter meus textos "pobreta-futibol-crube" por aqui...
Não sei se você deve concordar, mas algo invisível me saltou aos olhos quando digitei HF e CP junto. Kkkkk... Comentário infame!

Anyway, só vim fazer duas coisitas: dizer que adorei os textos e a incrível coincidencia, mesmo que não tenha acreditado, e perguntar qual o foi o santo que realizou o milagre de uma aluna de mecatrônica escrever tão bem.

Sucesso,
Kylze.