sábado, 15 de janeiro de 2011

Adeus, tio!


Eu não sou uma dessas pessoas que pensam e agem como se a morte promovesse todos os seres humanos a um grau indiscutível de bondade. Pelo contrário. A morte é, de alguma forma, o resultado das boas e más ações praticadas. Na última semana, minha família foi privada da presença de uma pessoa boa na acepção mais simples da palavra: Haldson Lucena, ou, como mais conhecíamos “Tio Haldinho”. Embora sua partida tenha se dado num contexto de dor, ele era uma dessas pessoas que encarava o sofrimento com um ar espirituoso e de relativização do desespero.

Quando se convive, mesmo pouco, com algumas pessoas e se tem a paciência e capacidade de observá-las fica mais fácil aprender algo com elas. Com ele eu vi que podemos reclamar muito menos e sorrir mais. O meu tio transcendia os medos e preocupações que afligem a classe média ao desdenhar de sua diabetes, hipertensão e problemas financeiros. Ele sorria, sofria, sorria, vivia.

Ao chegar no seu velório, na semi-metropolitana Vertente do Lério – agreste pernambucano – pude perceber como ser amado significa ir além de algumas amizades e coleguismos deixados ao longo da vida. Haldson tinha amigos e pessoas que o admiravam em todas as instâncias sociais: do mais excelente papudinho à Prefeita Constitucional. Isto porque ele era bom e cheio de falhas de caráter. Talvez seja esta mistura de bondade involuntária e contribuição dos milhões de erros que nos mantenha ainda humanos e lembrados. O meu tio soube fazer isso com grande propriedade.

Ele não era o melhor homem, tampouco o pior. Era apenas Haldson e certamente diria nesse momento (com um sotaque pernambucano que lhe era peculiar): “Eu tou no céu, virhh!”.

Descanse com Cristo, tio. Você merece este alívio. Sentiremos sua falta e vê se não vai fundar sindicato no céu, hein?!

Lucena Filho

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns mano... a emoção tomou conta e as lágrimas inundaram os meus olhos... belas palavras... sentiremos muito a ausência do tio querido mas não podemos ser egoístas em querê-lo conosco quando seu físico padecia e se aprouve a Deus levá-lo para Si é porque guardava para ele algo mais excelente.Kellyane Cristine

T.a.t.h.i.a.n.a L.u.c.e.n.a disse...

Palavras exatas e carregadas de emoção.
Como ele sempre dizia aqui em casa: "Ô, saudade! Ô, saudade!"

Ilma Cândido disse...

São essas perdas que nos dizem o quanto ganhamos na vida.
Que o Pai dê o conforto que vocês precisam.
Um abraço apertado.
Saudades grandes!