sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Viver não dói

Amigos,

Os dias estão apressados e com eles ando a passos largos. A quantidade de tarefas diárias tem me sufocado e deixei a desejar nas atualizações. Estava preparando algo para escrever quando me deparei com o poema mais concreto e sincero que já li. A poesia fala por e para nós e hoje o púlpito é dela. Com vocês, Carlos Drummond de Andrade.

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.

Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade...

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

Em tempo: performance de 'O Menestrel' (William Shakespeare) por Moacir Reis. Enjoy it!


Lucena Filho

5 comentários:

Jéssica Ethne disse...

Como diz Jéssica Cox: “Há um medo universal na gente, é o temor da insuficiência e da falta de fé em nós mesmos" .

Deve ser por isso que dói!rsrs

Anônimo disse...

Subscrevo!

abraço!
Carla

Viviane disse...

Sofremos por quê?
"Porque criamos expectativas e ansiedades que não são supridas..." (LF). Eis a razão.
Por isso que gosto da frase do Rousseau: "A paciência é amarga, mas seu fruto é doce."

Não conhecia esse texto do Shakespeare e nem preciso dizer que me tocou profundamente... Talvez seja o texto mais realista que já li. Lindo!

Unknown disse...

Lucena,
Já conhecia o poema e aperformance do menestrel. São dois textos incríveis que falam sobre como devemos encarar a vida e suas inevitáveis frustrações. Falam as duas de um amadurecimento às duras penas. Belo post, amigo.
Também ando deixando a desejar nas atualizações.
A vida tem me atropelado com constância.
rs
Abraço e boa semana.

Mariana disse...

Muito bonito esse texto, parabéns pela escolha...