sábado, 25 de abril de 2009

Zen noção

Não gosto de gente zen. Definitivamente não. Digo, eu não sou atraído pelo comportamento zen, já que a coerência me direciona a tentar amar a todos indistintamente. Mas os zenes me tiram do sério. Ponto um: eles tem um vocabulário próprio, tão abstrato quanto uma vitória de Rubens Barrichello na F1. É energia pra cá, pensamento positivo pra lá, força superior acolá, auto-reflexão ali, cosmos aqui, espiritualidade uma hora, iluminação outra, enfim, gírias bem peculiares.

A grande aberração aí existente é o vazio cognitivo por trás desses conceitos. Se você pede para explicarem o sentido das locuções, prepare-se para a inundação de metafísica. Uma tortura para racionais como este que vos escreve. Porém, se pararmos e analisarmos por poucos segundos é simples concluir que no final das contas todo esse discurso revela algo tão irreal e não concreto a ponto de te deixar sem argumentos para discutir com um sujeito adepto dessas filosofias. Porque afinal tudo emana da força interior existente de cada um, né? (???)

Um segundo aspecto irritante é que os eles aparentam deter uma paz interior um tanto entediante. O mundo pode cair e estão lá com o olhar sereno, como se nada estivesse acontecido, inabaláveis. Bom, até certo ponto isso deve ser saudável e evita meia dúzia de doenças, quiçá duas dezenas de conflitos, mas... Há tempo para tudo debaixo do sol, já dizia Salomão. Certas situações demandam posições enérgicas, atitudes firmes e olhar definido. Tenho pra mim que os superequilibrados se refugiam nessa fumacinha invisível chamada diversidade, ecumenismo, cosmovisão (ou outro nome da moda) numa tentativa de esconder o fracasso e maldade imanente a nós humanos.

Por fim, os nossos queridos amigos também demonstram uma faceta intrigante: acreditam em tudo. E quando faço tal afirmação é porque eles buscam uma igualdade na diversidade e diversidade na igualdade. Vai entender! Ouvi isso dia desses e até o momento estou procurando uma explicação plausível e aplicável para o caso prático. Tive um contato com os raros zenes e constatei a necessidade premente tida por eles em aceitar toda verdade como válida, ou seja, relativizam todo discurso. Quando se crê em algo automaticamente se contesta o oposto Ora, se toda verdade é aceitável, no frigir dos ovos nenhuma delas é; se tudo é passível de crença é apenas uma forma alternativa de dizer “não creio em nada”. E os descrentes generalizados são como zumbis intelectuais, pessoas sem sustentação de referenciais, gente zen noção mesmo.

Lucena Filho

OBS: A nomenclatura Zen é utilizada hodiernamente para pessoas adeptas de filsofias orientais ou de contemplação de elementos naturais como estilo de vida, mas sua origem está no Zen-budismo, nome japonês da tradição C'han, surgida na China, e associada em suas origens ao Budismo do ramo Mahayana.

7 comentários:

Kssvv disse...

O senso crítico do autor é bastante aguçado, hein?
Eu tenho momentos zens que não interferem na minha personalidade. O cotidiano, às vezes, é tão estressante, que nada mal ficar um pouco alheio à realidade e buscar mesmo uma paz interior, espiritual, repor suas energias e, para isso, não precisamos recorrer a métodos e nem sermos adeptos a alguma filosofia. Para mim, boa música, bom livro ou mesmo contemplar o oceano já me deixa zen sem perder a razão. Entendi a mensagem do texto. Sei que se refere a pessoas totalmente “zen noção”. Mas, que tal o autor experimentar deixar um pouquinho de lado seu peculiar e ortodoxo racionalismo, nem que seja por alguns minutos do dia, e ser zen? Faz bem para a alma!
Adorei seu texto.

Humberto Lucena disse...

Vivi, me sugira um sorvete, mas não ser zen, rá!
Bjão

Carlos disse...

Excelente texto!

Tenho uma amiga zen e admiro profundamente várias qualidades de caráter dela.

Entendo que o próprio racionalismo não pode ser tido por absoluto, haja vista suas limitações.

Entretanto, certos discursos sofrem de falta de consistência, e, como muito bem colocado pelo autor, são ontologicamente contraditórios. Pela sua pretensa intenção de reunir tudo num "balaio só" acabam sendo destituídos de conteúdo.

E isso não se aplica apenas aos movimentos "zen's", diria que é uma tendência atual essa relativação levada a termos extremados, é uma pena que nem todos percebam quão contraditórias são determinadas posturas e que elas, a despeito da intenção dos seus precursores, não colaboram em nada, apenas deixam as pessoas mais distantes uma das outras, "cada um na sua"...

Abraços nobre escritor!!!

Aldrina Cândido disse...

Os "Zen noção" querem mesmo é viver pre gui ço sa meeen te! Ótimo texto!

Vinicius Lúcio disse...

Boa kr...gostei!

Unknown disse...

Caí aqui por acidente e adorei. Parecia que escutava comentários familiares!
Já ri muito.
Abração e parabéns pelo blog

Aécio Ribeiro disse...

Beto, conheci seu blog hj e fiquei meio zen. Não no "vazio" zen, mas impactado pela beleza descritiva, pela sua belíssima capacidade de ler o mundo. Sua "cosmovisão", no sentido mais acadêmico da palavra, é realmente fantástica.