terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Tão perto, tão longe


Há algumas semanas venho amadurecendo meu complicado e áspero relacionamento com a impiedosa solidão. A odisséia de pensamentos foi corroborada com uma declaração seca e com gosto de desabafo de alguém próximo: “eu me sinto só no meio da multidão”. Quando me pus a pensar e, por alguns instantes analisar, percebi a pureza e sinceridade daquelas palavras e desde então dediquei alguns minutos diários ao conhecimento dos efeitos do estar ou sentir-se só”.

Conheço uma dúzia de pessoas que se apavoram somente em cogitarem a idéia de ficarem desacompanhadas, seja no presente ou em tempos futuros. Vale lembrar aqui, e não precisa ser nenhum filólogo para deduzir tal entendimento, que a solidão implica não somente o companheirismo, mas o cruel estado de espírito de sentir-se incompreendido por todo e qualquer ser vivo do universo. Para ser mais preciso, uma inexplicável sensação de vazio angustiante e de singularidade existencial, ao qual muitos rotulam erroneamente de depressão.

Haja vista a solidão física ser muito óbvia e empírica, decidi relegá-la a um plano de menor discutibilidade. Debrucemo-nos sobre o segundo sentido.

Pois bem. É até contraditório como a modernidade e suas benesses são capazes de, sem muita mobilidade, nos conectar com alguém Japão e com tal indivíduo desenvolver uma conversa sobre qualquer assunto, mas ao mesmo tempo dificulta o diálogo com nosso próprio eu.

Parece bem mais simples – por uma conversa virtual – falar do problema daquele amigo que você vê todos os dias do que ter um momento pessoal de confronto e objetividade.

Nesse mesmo sentido, é bem perceptível que nas novas formas de convivência, as inúmeras tarefas diárias assassinam qualquer possibilidade de se compartilhar experiências das mais diversas naturezas. A hiperatividade frenética, a academia, o cinema semanal no shopping, as idas religiosas ao salão de beleza, as utópicas oito horas de trabalho, a sedutora internet com seus sites de relacionamentos, a programação televisiva com seus padrões questionáveis e tratantes de um mundo irreal tem afastado o homem do seu semelhante. Absurdamente (ou não) pessoas vivem sob o mesmo teto por um laço abstratamente denominado de família, mas desconhecem completamente as verdades e conflitos daquele que dorme no quarto ao lado. A convivência rotineira engessa os relacionamentos, tornando-os distantes, frios, quando não inexistentes.

É diante desse contexto que um grito desesperado ecoa da alma de cada um. Perguntas com respostas antes tão simples parecem agora tão complicadas de serem atendidas e dia após dia tem-se a impressão que o mundo gira em velocidade dobrada e ao contrário. A estranha sensação de que o ator da novela que interpreta na sala de nossa casa está mais próximo que aquele senhor introspectivo – popularmente conhecido como pai - sentado no sofá ao lado nos leva a uma fuga constante da drástica situação de solidão num ambiente repleto de pessoas.

Que o nível de solidão é determinado pela qualidade de diálogo emitido por aqueles que nos rodeiam é indiscutível. Porém, o perigo reside justamente em se deixar abater e entrar no mesmo comportamento viciado dos que proporcionam o isolamento de relações. É necessário abrir canais de comunicação e utilizar os momentos de solidão, seja ela física ou disfarçada, para encontrar-se consigo e detectar as motivações do coração. Quando se está sem amigos, família ou comunicação mais profunda só resta o ego, os sonhos, as expectativas, os sentimentos, as angústias e frustrações. É na quietude da ausência de influências externas que descobrimos quem realmente somos a ponto de sermos aquilo que repetidamente fazemos.

Surpreendentemente, por vezes, uma alta exigência de compreensão pode ser anunciada e aí o solitário tem que ceder. E é entre razões, emoções e descobrimento de valores e feridas que a mudança nasce. Não esperar que a iniciativa de fazer diferente venha do próximo, porém se fazer presente na vida dos que estão por perto, conhecendo e se deixando conhecer. Aprender a lidar com cada um desses elementos e libertar-se do efeito venenoso que pode haver neles é essencial para, aos poucos, deixar de estar tão perto, mas tão longe...

LUCENA FILHO

11 comentários:

Unknown disse...

A solidão é um fardo na juventude.. Quando os pais se foram, como é o meu caso, o fardo passa a ser os outros, não foi por acaso que o pensador e filósofo Friedrich Nietzsche afirmou que o inferno são os outros??? tá certo que o coitado morreu louco.. mas.. concordo plenamente com ele..
abçs
Geraldo (Paraná)

Carol°°°Paula disse...

costumo me sentir só as vezes tbm, mas é só acreditar em si msm e comer chocolate q passa!
gostei do post de baixo, a musica é beem legal!

Carol°°°Paula disse...

rrsrsrs eu d novo!
é... chocolate faz milagre!!!
bgda pela visita no meu blog

Germana disse...

A solidão existe para todos. Mentiroso aquele que diz não se sentir sozinho inúmeras vezes, mesmo cercado de muita gente.

Acredito que o segredo é viver cada dia, sabendo administrar os maus sentimentos. Aliás, não somos felizes todos os dias. O mais importante disso tudo é saber que os bons dias também existem e a dinâmica da mudança de sentimentos nos fazem ser quem somos.

:)

Anônimo disse...

Conheço um senhor de 80 anos q tem mais ou menos uns 6 ou 7 filhos uma mulher linda de 46 anos. Ele vive com 2 filhas e com a mulher.
Quando nos fomos viajar minha família e a família dele, percebi q apesar dele esta perto de pessoas ele estava sozinho e depressivo. Pois a mulher ia passear com as filhas e ele ficava no ap sozinho..
Se tornava "chato" em ver ele sozinho, mas o q eu iria conversa ou fazer com uma pessoa de 80 anos depressiva?

Humberto Lucena disse...

Thayane,

As pessoas não precisam que você converse algo específico. Na verdade, elas só querem ser ouvidas. O caso que você falou é emblemático e tenho certeza que o tal senhor não é o único nessa situação.

Veja que você, mesmo sendo muitos anos mais nova do que ele, pode fazer a diferença na vida de alguém que talvez veja na morte o alívio pra sua dor. Aproximar-se, ouvir, valorizar a história do outro pode ter um resultado surpreendente.

Quem sabe começar com um "olá, tudo bem?" ou "fale-me um pouco de sua família" seria o canal adequado para dar algumas palavras de ânimo.

O que defendo no texto é que, mesmo quando nos sentimos sozinhos ou percebemos a solidão de alguém não podemos alimentar a esperança de que o mundo nos aponte uma solução, quando ela está bem na nossa frente ou dentro de nós.

Volte sempre.

Humberto Lucena disse...

Germana, você disse tudo.

Anônimo disse...

Vim aqui comentar a postagem, mas quando li os comentarios me surpreendi com suas respostas Betinho!!!Tenho descoberto em vc a capacidade e a sensibilidade de tratar do outro mesmo na sua individualidade e na sua "privatização".Daria um ótimo Psicológo... hehehe Muitas pessoas interpretam a solidão como algo triste, individual, as vezes ate egoista, nesse caso o ombro amigo ,mesmo para aqueles solitários desconhecidos, ajuda. Na realidade a solidão é um sentimento, q se molda de acordo com as vivencias, as circustancias e situações do meio externo e interno e nos trazem algumas reflexões... a solidão de acordo com minhas poucas vivencias é como o deserto... aquele tempo q precisamos parar, ouvir, pensar,e efetivar as mudanças q detectamos necessarias... viver a solidão tbm é bom... quando sabesse q logo chegara a bonança!!!

Viviane disse...

Nossa! Parece que vc adivinhou em trazer à tona esse teu texto muito, mas muito bem escrito. Foi bastante providencial. Tô naquela fase em que "me sinto só no meio da multidão". Apesar dela ser necessária, os efeitos de sua presença são desconfortantes, principalmente quando nos causam angústia e ansiedade. Tento, a duras penas, tirar proveito de sua companhia, para fazer uma autoreflexão e, com isso, amadurecer. Mas confesso que é uma visita que torço pra ir embora logo e demore muuuuito a aparecer. Definitivamente, não gosto de me sentir só quando não quero estar só. Mas fazer o quê? Vamos encará-la como uma das emoções da vida, mesmo não sendo nada emocionante. Humpf!

Anônimo disse...

Tanta gte se sentindo só na multidão...eu tbm assim me sentindo!!!
Q tal a gte se juntar?!
rs
...
A solitude é boa e saudável algumas vzs, para um encontro mais profundo consigo mesmo.
As vzs eu necessito estar só, para parar e pensar !!!

MAS...
A solidão é algo doído !!!

ps: feliz comentário da Germana !

Anônimo disse...

=)