quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Recesso, diligências, cansaço e Jesus



Boa noite, alguém aí? São 19:00h e eu acabei de chegar em casa. Normal se eu não tivesse saído às 07:00h. Há razão para tanto. Hoje, o Judiciário retornou do recesso forense. E voltei trabalhando no três (quem me conhece, sabe do que estou falando). Chego eu, todo sorridente na Vara do Trabalho, e fico sabendo das férias da colega que divide os poucos 26 municípios da jurisdição comigo. Em outras palavras, toma que o filho é teu. Daí todo mundo decidiu distribuir mandados, notificações, alvarás de uma vez – a maioria com urgência pra ontem. Agora imagine a cena: eu no centro da sala e todos berrando meu nome.

Agora o que eu não entendo é o seguinte: se houve um recesso de 15 dias e eu entrei nele sem nenhuma pendência, como no primeiro dia do retorno eu recebo quase 70 mandados? De onde eles vieram? Que tanto protocolo e petição foram essas? Fico pensando se no recesso os advogados não estavam aproveitando suas merecidas férias (já que essa pausa no fim do ano tem o propósito de proporcionar descanso aos causídicos). Provavelmente, na ceia do natal alguns deles falaram “vocês me esperam antes de partir o peru? Tou concluindo uns embargos à execução” ou “eu sei que são 23:00h do dia 31 de dezembro, meu filho, mas eu não vou poder ir ver a queima de fogos pois tenho que requerer a penhora de três galinhas”. A grande pergunta é: onde fica a horta dos mandados? Como eles nascem tão rápidos mesmo todo mundo estando de 'férias'? Enfim...

Então, passei a manhã assinando protocolos, preenchendo guias, manuseando processos, revisando mandados, etc. Lá vou eu pra tão famigerada praia de Pipa cumprir trocentas diligências. Para se ter uma breve noção, a Praia de Pipa em janeiro é tão lotada que no ônibus até o motorista vai em pé. Você não sabe se está no Rio Grande do Norte ou em Helsinki, Lisboa, Estocolmo ou na 25 de março em São Paulo.

Voltando... rodei mais que peru bêbado em véspera de Natal, pois naquela praia é assim: ou o nome da rua é projetada ou eles mudam diariamente. Mês passado fui num lugar que se chamava Rua da Mata e hoje descobri o novo nome: Rua do Amor. A máxima lá é os próprios moradores mudarem os nomes das vias aparentemente de acordo como estado de espírito. Só tenho medo que de chegar num dia futuro e descobrir que um nervosinho a renomeou de Rua da Puta que o Pariu. Lá tem dessas coisas...

Daí, fiz o de praxe: fui xingado (já estava sentindo falta, confesso), tive que ser o psicólogo de todas as horas, ganhei fiu-fiu de adolescente tarada, aguentei mentira deslavada de reclamado (do tipo “nem conheço esse reclamante”), etc, etc. Finalmente, cheguei na última diligência, parei o carro na porta do casarão do executado, tirei a notificação da pasta e bati a famosa palma de mendigo, ou seja, você bate e olha pelo buraco do portão pra ver se tem gente.

Lá vem um senhor alto, perto de 1,90m, muito simpático e eu olho apreensivo na intimação e digo:

- Gostaria de falar com o Sr. Jesus. (Pois é. O nome da pessoa era Jesus e eu não tinha olhado antes e, portanto, tive de me controlar, pois sou besta pra rir).
- Soy yo. (Detalhe: Jesus era espanhol e nunca me informaram). ¿Quieres entrar en mi casa?
- Sim, sim, obrigado. (Quem é louco de recusar um convite desse?)
- Água? (da vida???)
- Não, muito grato.

O estranho era tratar aquela pessoa por Sr. Jesus, e dizer graças a seu Pai, digo, graças a Deus. E o pior, executar dívida trabalhista de Jesus. Fiquei constrangido, especialmente porque em Colossenses 2:14a diz “tendo (Jesus) cancelado o escrito de dívida, que era contra nós”. E agora? Eu é que não tenho coragem de cobrar de novo...

Depois dessa, o melhor a fazer foi juntar os trapos e vir pra casa.

LUCENA FILHO

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu não entendo como um recesso pode gerar tanta coisa! A "causídica" aqui não trabalhou naaada no tal recesso, apenas recebeu duas pastas lotadas de documentos na porta de causa ao meio-dia do dia 25 de dezembro de 2008, e foi tudo! Ah, ia quase me esquecendo: fui de 3 em 3 dias alimentar a população de de peixes do escitório (pra não perder o costume...). Mas nos três dias de trabalho da primeira semana do ano (quase atingíamos o recesso forense... quem sabe ano que vem...) todos os clientes do escritório resolveram ligar no celular, no escritório, em casa, ir ao escritório, enviar torpedos, recados via depoimento, inclusive amigos, familiares etc e tal. Fora a chuva de atendimentos e outros contratempos mais. Não entendi... aliás, estou até agora procurando entender por que as pessoas acham que aconteceu algum fenômeno no recesso e ações foram ajuizadas, pedidos julgados, o juiz enfim proferiu aquele esperado despacho... francamente... todos tiveram ceia de Natal e assistiram à queima de fogos, mas os advogados, esses não... são peças essenciais à Justiça afinal. E, diga-se de passagem, uma vez advogado, esqueça sua vida, ela pertence aos clientes, aos amigos e à família que insistem em lembrar a 'escolha' profissional que você fez... Mas eu afirmo: não fiz nenhum embargo à execução, e nem um pedido de penhora nesse período. Acredite! Não queria irritar nenhum executor de mandados... Mas dei conta das sete defesas de um dia pra outro. Trabalho de auditores fiscais em pleno 26 de dezembro de 2008 (essa vai pra quem pretende MTE...) :)
Só Jesus na causa! Ops!

:)

Unknown disse...

Nossa, que situação constrangedora, logo vc cobrando de Jesus, Ele que te abençoou tanto, não queria estar no teu lugar, kk
Que salário suado este teu, hein.
Que Deus te abençõe e te proteja nestas desventuras.
Bjs

Humberto Lucena disse...

Pra você ver que nem tudo são flores, né?

Anônimo disse...

Que coisa feia cobrar de Jesus!!!!! Muito ruim sua vida, viu amigo! Diligenciar na praia, oa só!!!
Adorei o texto!!! Novidade pra mim! Depois vou dá uma lidinha nos outros. Até mais!

Anônimo disse...

E pq não cobrar de Jesus? kkkkkkk... E quando a gente ora: Senhor, lembro das promessas já feitas a mim um dia.. Isso não é cobrança? OO

Kylze.

Anônimo disse...

Faz-me rir... aiaia Jesus... ops... rsrsrs
Vida difícil hein neguinho?!!!
Esse tipo de recesso eu não queria nunca!!! Ei Kylze bem lembrado viu?!! kkkkk
;)