sexta-feira, 26 de junho de 2009

Da inspiração



Lá pelas 00:00h estava eu de bobeira no MSN, ao som de 'Everything' (Lifehouse), quando mencionei para uma velha amiga que precisava atualizar este espaço, mas a preguiça não deixava. Ela comentou: “se eu tivesse sua inspiração...”. Já não é a primeira vez que me perguntam ou falam do assunto. Particularmente, não há nenhum ritual. Os grandes escritores devem lá ter os seus e isso me desperta a curiosidade. Eu só sento, coloco Chris Martin pra cantar e ataco o teclado. O lastro?

A inspiração vem e vai como um ladrão na noite. Surge da inquietante sensação pontiaguda no estômago; do ditado ‘ostra feliz não faz pérola’; dos dias apressados, chuvosos; do silêncio; da falência múltipla dos sentimentos; do coma moral sem UTI para tratá-lo; das recordações (in)apropriadamente arquivadas; das lágrimas derramadas internamente; das decepções, alegrias, euforias; do fogo amigo; das mutilações espirituais; da incompreensão; da observação resignada de feições caídas; dos amores omissos, paixões relegadas e amizades asfixiadas; dos conceitos fragmentados; das cicatrizes insistentes em romper; dos sonhos desconexos; da distância; do odor exalado pelas fétidas aparências; pelo teatro nada mágico de papéis invertidos e atores amadores que é a existência; da dolorosa restrição em entender a morte e seu eco tenebroso; dos pingos de sangue que banham o quadro branco da minha santidade; do aspirador; de tudo que inspire a dor; do inspirador!”

Lucena Filho

8 comentários:

Breno Machado disse...

Ou seja: tomar a vida por matéria-prima e a trabalhar como fosse argila.

Arte é a manipulação da realidade com fim estético, e a literatura não consegue fugir disso.

Carpe Noctem, Humberto. Grande abraço.

Unknown disse...

Caro Lucena, que post bacana! E dessa vez foi você que roubou a idéia de meu próximo texto! rs
Bom, mas fico feliz que você tenha conseguido colocar, sim, de onde vem essa coisa de inspiração, que muita gente pergunta.
Também não tenho ritual. Tudo acontece segundo um poema que postei recentemente:

"Muitas vezes não sei o que sinto,
Apenas vejo-me preso à necessidade de juntar palavras"

A música é linda. Como sou novo por aqui, vou procurar saber como põe som nos posts.
Abração

Viviane disse...

Inspiração, inspiração... Essa palavrinha me acompanha sistematicamente e não consigo viver sem ela, pois não consigo agir, sem inspirar. Só que na arte da escrita, ainda não encontrei essa tal inspiração que os escritores (como o autor) têm. Já tive a oportunidade de observar, durante um bom tempo de minha vida,que a melancolia, a introspecção, a constante observação externa, o aguçado senso crítico, o silêncio, a solidão (pois é um ato solitário mesmo), a tristeza (mais do que a alegria, porque quando estamos alegres, verbalizamos e compartilhamos dessa alegria com os outros)acompanham, em doses singulares e homeopáticas, a inspiração para escrever. Não que escrever seja algo negativo; muito pelo contrário, vejo como algo positivo, uma forma do escritor expor suas idéias, conhecimentos, anseios, observações, visão de mundo, sentimentos, imaginações, enfim, um pouco do seu eu, de sua personalidade. Para um escritor, há felicidade no seu produto final, na sua criação e, mais ainda, quando deixa e compartilha com os seus. Por isso, Betinho, agradeço pela oportunidade de apreciar seus posts. Continue sempre assim e digo o mesmo que sua velha amiga "se eu tivesse sua inspiração..."

Unknown disse...

Aprendi e já coloquei um pra estrear!
rs
abraços

Unknown disse...

Bom o que, rapaz?!
rs
Nem sei direito da Coréia. A aula foi sua!
Aprendi e aprendo por aqui!
Quero aprender agora como vc colocou o selo na lateral do blog!
Depois me diga.
Abração

Anônimo disse...

Da inspiração!
Dizia meu professor de Teoria da Literatura na Faculdade de Letras-UFPB, Amador Ribeiro Neto [alguém que, ou se admira, ou se detesta e uma máquina de reciclar a palavra!] que no processo criativo da poesia, a INSPIRAÇÃO seria somente 10%.
Defende Amador, que de amador nada tem, visto que é doutor em Semiótica pela PUC-SP e bastante experimentado na arte da escrita, que a TRANSPIRAÇÃO [o exercício exaustivo da escrita, revendo, refazendo, retocando...enfim!] é 90% do processo!
Isso me causou grande espanto quando ouvi, mas, como não sou muito de fechar as portas do juízo pra novas coisas, me empenhei em tentar entender o que o ilustre professor me trazia de informação. A coisa piorou ainda mais quando ele falou que também pode ser a própria PIRAçÃO [rs!] o viés maior! Assustei! Assustei pois o que sempre arrancou de mim as melhores expressões foi a INSPIRAÇÃO [no sentido de que, com a INSPIRAçÃO, a palavra escrita melhor traduzia o que ia na minha alma!].
Fiz uma incursão no mundo da Poesia Concreta! Assimilei a técnica e tenho buscado aperfeiçoa-la! Peguei o 'fio de Ariadne' e fui com ele até o extremo que consegui! E graças ao 'fio de Ariadne', também consegui o caminho de volta, ao menos até certo ponto.
O fato é que, meu processo de criação, é muitíssimo parecido com o descrito pelo meu amigo querido L. Filho!
No momento, muito Jack Johnson no 'play' e 'repeat'+ um olhar diferente sobre as coisas mais simples do cotidiano [influência de O Teatro Mágico!] + uma dose excessiva de variados estados de alma [o que gera INSPIRAÇÃO!] + olhos fechados, muitas e muitas vezes escolhendo a palavra mais adequada pra também atacar o teclado!rs!
Bom, já saí da tese, já cheguei até a antítese e...estou caminhando para a 'síntese'!rs!
Amador, desculpa! Não deu pra 'comprar' tua idéia!rs!Mas...te admiro!
Estou mais pra L. Filho!rss..

Humberto Lucena disse...

Gente, na boa... os comentários de vocês me orgulham! Coisa de gente grande. Muito obg pela contribuição e espero que voltem sempre.

A velha amiga disse...

A inspiração vem da música, que mesmo sendo cantada, fala tanto ao coração; vem das despedidas (in)desejadas; do estar longe, estando perto; das palavras na ponta da língua que não podem ser ditas; das poesias de Fernando Pessoa e dos textos de Clarice Lispector; do querer sem poder; da felicidade alheia e tristeza pessoal; das composições de Vinícius, Tom, Djavan e Chico; das coisas simples da vida tão presentes em nosso cotidiano; da inevitável indecisão entre os nossos desejos e o sensato; dos sentimentos sem nomes; das perguntas sem respostas; do riso fictício; do choro aflito; da melancólica solidão da alma; do medo repentino; da saudade inexplicável; da fé no amanhã; das imagens inesquecíveis; dos carinhos feitos numa ingênua troca de olhar; do primeiro beijo; do universo dos pensamentos; do viver; do sonhar; do amar!

É, agora eu entendendo de onde vem sua inspiração. Por um instante ela esteve comigo.
;)