quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Voando para o futuro

Logo pós a queda do vôo 1907 e próximo das eleições de 2006. Do fundo do baú.

Voando para o futuro

A mídia, ultimamente, tem alternado suas reportagens entre o acidente do vôo 1907 e a sucessão presidencial. Já somos semiperitos em métodos de abordagem estatística, margem de erro, pesquisas eleitorais, aerodinâmica de boeings, funcionamento de transponders, processos de identificação médico-legal. Dividimos nossa atenção entre as alianças partidárias, o jogo personalista do poder e a tragédia que desestruturou algumas famílias. Contudo, o silêncio e a tristeza são suficientes para exprimir o sentimento da nação diante de tamanho desastre aéreo.

Falo hoje sobre disputa presidencial. Falo a nosso respeito. É no mínimo interessante como somos agressivos (a começar deste que vos escreve) diante dos escândalos políticos, da dilapidação moral e da insustentável coerência de certos governantes. Alguém já percebeu culpa sempre é de Deus ou dos políticos? O crédito pelos escassos bons resultados sempre é do povo, que escolheu acertadamente os dirigentes da nação, mas a culpa é única e exclusiva do chefe. Parece mais uma partida de futebol. Se o time ganha, foi o coletivo que conquistou a vitória; se surge a derrota, enforquem o técnico.

Este tipo de comportamento parte do mais simples agricultor lá de Roraima ao mais pomposo candidato do sul. Somos implacáveis nas adjetivações, nas investidas contra aqueles que elegemos. Opa! Eis aí a explicação para o lamaçal ético que enfrentamos. É isso! Os mensaleiros, sanguessugas e outras categorias ainda não reveladas são a reprodução do caráter e da maturidade dos nativos desta terra onde tudo se pode.

Desviar verbas públicas, mentir, ser demagogo, comprar de votos, adotar uma postura clientelista, prostituir os princípios, bons costumes ideais possuem o mesmo princípio de “colar” numa prova, subornar o guarda, dar um “jeitinho” brasileiro, subtrair uns trocados da carteira dos pais para comprar algo desejado e falar belas palavras numa entrevista para um emprego (escondendo quem realmente somos). Somos tão corruptos, mentirosos, desleais e criminosos quanto eles, diferindo somente na intensidade de comportamento. O instinto de burlar, fazer da maneira errada, maquiar, atender sempre aos interesses mais individuais só mudam de esfera, aliás, adquirem poder, o que os torna mais devastadores.

Mas, parece que não queremos ver. É melhor crucificar aquele ser distante, pois, quiçá, desta maneira, nos escondamos de nossas próprias fraquezas. Quem sabe até reconheçamos nossa parcela de culpa, mas o comodismo e a facilidade em acompanhar o coro massificado de condenação dos poderosos nos bloqueiam. Entre bater nos outros e enfrentar a realidade dos instintos pessoais, não há dúvida seremos algozes profissionais dos primeiros.

Outro fator relevante. Quais as razões que nos levam a escolher candidato A ou B? Beleza? Um discurso empolgante? A roupa ou o modo como se penteia? O emprego que conseguiu para o irmão do cunhado do síndico do prédio da vizinha? Ou ainda quem sabe, em um ato de compaixão e admiração autodestrutiva, pomos o programa “Primeiro emprego” em prática e elegemos um sujeito que nunca foi nem presidente de sala de aula? A verdade é clara e simples: a seriedade dos motivos que nos impulsionam a escolher fulano ou beltrano será a mesma que os eleitos terão para conosco.

Temos duas opções muito claras para o constatado problema: ou mudamos primeiro nós mesmos, reconhecendo nossa má índole e reflexo de caráter dos que aí estão ou continuamos sendo governados pelo típico brasileiro e mantemos a nação nesse curso desenfreado com o transponder intelectual desligado, rumo à selva da imoralidade. Você é o piloto!

LUCENA FILHO

Nenhum comentário: